!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> Panteras Rosa: IPS: Hipocrisia até ao fim

sábado, março 25, 2006

IPS: Hipocrisia até ao fim

Sabemos hoje pelo Diário de Notícias que o Instituto Português de Sangue prepara finalmente o fim da proibição de doação de sangue por parte de dadores homossexuais masculinos. Sabemos, porque uma jornalista - Fernanda Câncio - resolveu verificar a situação, e descobriu que as novas regras, que aguardam ainda publicação, já assumiram a eliminação dessa discriminação desde final do ano passado. Na verdade, pelo IPS, não teríamos sabido, uma discrição bastante compreensível - ainda assim inadmissível - perante uma discriminação preconceituosa que era combatida há já cerca de 15 anos pelas associações LGBT (nos últimos dois anos, as Panteras agiram com regularidade sobre o tema), e cuja existência, naturalmente, nunca se soube justificar. Mais uma vez, o presidente do IPS demonstra como uma boa notícia - a da nossa vitória contra um preconceito injustificado - pode ser dada da pior maneira. Não apenas pelo secretismo, mas pelos motivos invocados. É um passo significativo que o responsável admita que a discriminação existia nas regras do IPS e era assim aplicada - é que nos últimos dois anos, perante as denúncias das associações lgbt, este insistia em enganar a opinião pública tentando fazer passar a ideia de que tal discriminação já não seria regra e que os potenciais dadores só seriam questionados, independentemente da sua orientação sexual, sobre "comportamentos de risco" (sem nunca explicar porque é que, por exemplo, as questões sobre sexo anal apenas eram colocadas a homens que reconhecessem ter relações com outros homens, como se houvesse práticas sexuais exclusivas de qualquer orientação sexual). Em que ficamos, então? A acreditar em toda a sucessão de justificações do IPS, este estaria agora a revogar regras que já não estariam em vigor. Pois, a questão é que estavam. Mas a coisa piora: diz o senhor que a alteração não foi anunciada publicamente para não dar a ideia de que não era baseada em critérios científicos e que o IPS estaria a ceder a pressões exteriores. Diz, escândalo ainda mais profundo, que agora os homossexuais masculinos já podem doar sangue porque há "novos testes" com mais eficácia na despistagem da Sida e das hepatites, insinuando, como de resto sempre fez, que os gays serão um grupo de risco relativamente a estas doenças (era este senhor que defendia - veja-se a cientificidade dos argumentos - que a proibição se justificava pela "maior promiscuidade" dos homossexuais). Pior que quem discrimina, é o discriminador arrependido que na hora da eliminação do preconceito se nega sequer a admitir que este tenha existido. E pior ainda do que o discriminador arrependido mas que nega ter discriminado, é aquele que corrige a discriminação formal - porque esta era indefensável e porque realmente e felizmente, as "pressões exteriores" existiram - repetindo os mesmos argumentos discriminatórios. Com prendas destas, o que nos resta? Festejarmos cautelosamente um progresso inegável da luta pelo fim de mais uma discriminação, e desconfiarmos muito da sua concretização, quanto mais não seja por este péssimo início. Estaremos atent@s à publicação destas novas regras. Até lá, manteremos disponível no website das Panteras a carta de protesto a cujo envio para o IPS temos apelado - pensamos que se justifica mais do que nunca. Mas, mais do que isso, verificaremos a sua aplicação (o IPS já está habituado às nossas acções directas, de qualquer forma), que não será evidente nem pacífica em todos os centros de recolha de sangue ou junto do conjunto do pessoal médico que as pratica. Aliás, diz a pantera desde sempre, esta é apenas uma de entre muitas discriminações correntes no sistema de saúde contra a população LGBT.

As imagens neste post, da autoria de Cláudia Damas, são de uma das primeiras ações públicas das Panteras Rosa, a 28/06/2004 (prévia à existência deste blogue), junto à fachada do IPS, em Lisboa. Face à ação, a segurança do edifício chamaria a polícia. Em vez de fugirem, as Panteras sentaram-se tranquilamente numa esplanada mesmo ao lado, ocultando os materiais da ação e ficando a ver a viatura da polícia a passar para cá e para lá em busca de um hipotético grupo em fuga. 




















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